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Schmersal News
PARADA DE EMERGÊNCIA EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS: ATUALIZANDO OS CONCEITOS
Por Justiniano Vieira Lima Junior, Instrutor e consultor técnico Schmersal de segurança em máquinas e equipamentos.
De acordo com a semântica, qual o significado da palavra emergência? É algo que surge repentinamente e causa danos, ocorrência de perigo, situação crítica ou extrema, urgência, imprevisto ou mesmo algo previsto, porém inesperado. São muitos conceitos diferentes e que, certamente, estão relacionados a algum fato ocorrido e totalmente indesejado. A realidade é que, em se tratando de máquinas, principalmente as que dispõem de mecanismos com transmissão de potência alta, atuadores e fontes de energia que podem causar acidentes por apresentarem potenciais perigos, devem ter sistemas de parada de emergência.
A norma regulamentadora que trata de máquinas e equipamentos no Brasil (NR12) possui uma seção com o tema parada de emergência e cita a necessidade de instalação de um ou mais dispositivos de parada de emergência, conforme seja indicado na apreciação de riscos de cada máquina. Isso só não se aplica nos casos em que a sua atuação não produza uma redução dos riscos existentes nem em máquinas autopropelidas.
É fundamental entender que a parada de emergência não pode ser utilizada como acionamento nem parada de uma máquina. Isso significa que ela não pode provocar outros riscos se acionada e deve ser prevista em projeto.
Podemos dizer que máquinas e equipamentos realizam trabalhos mais fortes, mais rápidos e mais precisos do que o ser humano. Para que possam fazer isso, dispõem de fontes de energia, normalmente elétrica, hidráulica ou pneumática que realizam as tarefas necessárias para atingir os objetivos para os quais foram projetadas. Um bom projeto reduz os riscos existentes ao máximo, mas fatores como desgaste, falhas tanto das máquinas quanto dos operadores e manutenções indevidas podem provocar situações de perigos cuja solução final seja a redução através do uso da parada de emergência. É uma função de segurança secundária, pois os riscos devem ser reduzidos, inicialmente, por meio do projeto adequado, proteções físicas fixas ou móveis, dispositivos de proteção e sinalizações e informação de segurança.
Os dispositivos de parada de emergência devem ser instalados em locais de fácil acesso, mas de forma a evitar que sejam acionados indevidamente por estarem instalados onde haja excesso de circulação de pessoas. Devem ser visualizados tanto por operadores quanto por pessoas ao redor da máquina de modo a não deixar dúvidas relativas ao seu funcionamento e agilidade na sua atuação, que também deve ser desobstruída.
Existem vários tipos de atuadores de dispositivos de parada de emergência, como botões, fios, cordas, barras, alças e pedais sem cobertura nos casos em que os outros não sejam aplicáveis. Um atuador é parte de um dispositivo ao qual se aplica uma ação externa de acordo com a ABNT NBR IEC 60204-1:2020.
Cada dispositivo de parada de emergência deve cobrir uma ou mais seções de uma máquina, uma máquina inteira ou um conjunto destas, que podem estar interligadas com o objetivo de executar uma ou mais tarefas. Por exemplo: uma esteira transportadora, um forno, um robô e uma máquina envolvedora de filme stretch.
Definida pela ABNT NBR ISO 13850, a zona de abrangência do(s) dispositivo(s) de parada de emergência é a parte predeterminada da máquina intertravada pelo(s) dispositivo(s) de parada de emergência específico(s).
Caso haja mais de uma zona de abrangência, alguns requisitos devem ser cumpridos como: a) todas as zonas devem ser bem definidas e identificáveis; b) os perigos associados à atuação dos dispositivos da referida zona; e c) a identificação da zona na área de operação onde o dispositivo está instalado por meio de pictogramas ou pela própria localização.
A localização também é muito importante e deve ser indicada na apreciação de riscos. Deve-se dar especial atenção principalmente para cada estação de controle do operador, entradas e saídas e locais onde existam interações homem/máquina previstas em projeto original.
Quanto à altura da instalação dos dispositivos de parada de emergência, é indicado que seja entre 0,6m e 1,7m acima do nível de referência da máquina (piso, plataforma etc.). Caso seja um pedal, recomenda-se a sua fixação no nível de acesso (por exemplo, no piso).
A atuação do dispositivo de parada de emergência deve ser feita de modo direto, sem a possibilidade de causar qualquer tipo de dano ao operador, e deve ter uma retenção mecânica que impeça o retorno automático depois do acionamento. Após atuado, deve ter um retorno manual do sistema de emergência de modo que se avalie as razões pelas quais o dispositivo foi acionado. Se for necessário indicar a direção de retorno do atuador, pode ser utilizada uma seta na mesma cor ou próxima dela para não confundir com a direção de atuação do dispositivo.
Quando se utiliza um dispositivo elétrico de parada de emergência, deve ser aplicado o princípio da ação de abertura direta com travamento mecânico. Caso se utilizem dispositivos hidráulicos ou pneumáticos, deve-se aplicar o princípio da ação mecânica positiva (direta) com travamento mecânico, pois atuam no fechamento direto de uma válvula sem depender de mola.
Outra característica do dispositivo de parada de emergência é sua cor. O atuador deve ser vermelho e, se for possível, com o fundo amarelo. Tanto o projeto como a montagem do dispositivo devem prever que não exista a possibilidade de ser bloqueado com facilidade.
Máquinas que disponham de estações de comando de operação portáteis devem possuir dispositivos de parada de emergência inclusos, assim como na máquina, e ambos devem estar sempre ativos. Caso a estação de comando de operação portátil seja sem fio, o rearme do dispositivo de parada de emergência instalado nela deve ser realizado manualmente após destravamento mecânico, exceto se houver um dispositivo de rearme fixo na máquina que forneça visão completa da área de abrangência da emergência do equipamento portátil.
O atuador e seu fundo no dispositivo de parada de emergência não devem ser gravados com palavras ou símbolos, pois isso pode confundir o operador. Se necessário, deve-se utilizar o símbolo da norma IEC 60417-5638 – Parada de emergência.
A interligação elétrica da parada de emergência, também definida como “função de segurança de parada de emergência”, deve ser feita de acordo com uma das paradas de categorias existentes (0, 1 ou 2). De acordo com a norma ABNT NBR ISO 13849-1, estas paradas de categorias não podem ser confundidas com as categorias de segurança (B, 1, 2, 3 ou 4), que devem ser adotadas na apreciação de riscos para definir quais componentes de entrada, lógica e saída necessitam ser utilizados na instalação de maneira a se atingir a redução de risco requerida.
A ABNT NBR ISO 13850 define as paradas de categoria 0 e 1. A parada de categoria 0 é aquela em que a remoção é imediata da energia aos atuadores. Eventualmente, em casos nos quais haja algum tipo de energia armazenada (por exemplo, inércia, tensão de mola, gravidade etc.), pode ser necessária uma frenagem adicional. Como exemplo, temos a retirada da energia dos motores elétricos, o desacoplamento mecânico de elementos perigosos e o bloqueio das fontes de alimentação dos fluidos para os atuadores hidráulicos e pneumáticos. No caso dos conversores de frequência, á a função de segurança Safe Torque Off (STO), de acordo com a norma IEC 61800-5-2.
Já a parada de categoria 1 consiste na interrupção dos movimentos e operações conservando a energia para os atuadores até o momento da parada e posterior retirada da energia. Um exemplo é o sinal para a desaceleração do movimento e, após a parada, retirada da energia elétrica para o(s) motor(es). No caso dos conversores de frequência, há a função de segurança Safe Stop 1 (SS1), de acordo com a norma IEC 61800-5-2.
A parada de categoria 2, definida pela norma ABNT NBR IEC 60204-1, é uma parada controlada com alimentação remanescente disponível nos acionadores da máquina. A condição desta parada de emergência é que deve ser monitorada e, por meio de uma detecção de falhas neste estado, a energia deve ser removida sem criar uma situação perigosa. No caso dos conversores de frequência, há a função de segurança Safe Stop 2 (SS2), de acordo com a norma IEC 61800-5-2.
Uma atenção deve ser dada quando se utilizam cabos ou cordas como atuadores dos dispositivos de parada de emergência, pois eles devem ser de cor vermelha, projetados e posicionados de modo que seu uso seja fácil e com a melhor visibilidade possível. Se necessário, é importante utilizar uma sinalização adicional para auxiliar sua visibilidade. Também deve-se considerar que tenha uma deflexão máxima e que seja capaz de gerar o comando de parada com uma força a ser aplicada e sua direção em relação ao cabo ou corda.
Caso o cabo ou a corda estejam frouxos, rompidos ou desengatados (propositalmente ou não), um comando de parada de emergência deve ser gerado, tornando sua eficiência total e não somente na deflexão. A regra do rearme manual do atuador se mantém no dispositivo.
Em resumo, a função de parada de emergência é fundamental nas máquinas e equipamentos em que existam as possibilidades de reduzir os riscos identificados previamente em uma apreciação de riscos. Ela deve neutralizar as demais funções e operações em todos os modos, ser iniciada por uma única ação humana, parar o(s) movimento(s) perigoso(s) sem criar novo(s) perigo(s) e o rearme (reset) não pode iniciar uma nova partida.
Referências normativas:
Norma Regulamentadora 12 (NR12), Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos
ABNT NBR ISO 13850:2021, Segurança de máquinas – Dispositivos de parada de emergência
ABNT NBR IEC 60204-1:2020, Segurança de máquinas – Equipamentos elétricos de máquinas – Requisitos gerais
ABNT NBR ISO 13849-1:2019, Segurança de máquinas – Parte 1: Partes de sistemas de comando relacionados à segurança
ABNT NBR ISO 12100:2013, Segurança de máquinas – Princípios gerais de projeto – Apreciação e redução de riscos
ABNT NBR ISO 4414:2012, Transmissão pneumática de potência – Regras gerais e requisitos de segurança para sistema e seus componentes
ABNT NBR IEC 60947-5-5:2014, Dispositivos de manobra e controle de baixa tensão – Parte 5-5: Dispositivos e elementos de comutação para circuitos de comando – Dispositivos de parada de emergência elétrico com travamento mecânico
ISO 4413:2010, Hydraulic fluid power – General rules and safety requirements for systems and their components
IEC 61800-5-2:2016, Adjustable speed electrical power drive systems – Part 5-2: Safety requirements – Functional
IEC 60417-DB:2002 – Graphical symbols for use on equipment (online database)
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